CORREIO DO CIDADÃO Nº 063

divulgado em 17/DEZ/98

Carta ao editor do programa GLOBO REPÓRTER

Senhor Editor:

Procurando uma palavra que definisse apropriadamente a última edição do GLOBO REPÓRTER (Sexta feira, 11/dez/98), intitulado Desarmamento, só encontrei uma: MEDÍOCRE.

Todo o programa foi um banal libelo anti-armas que pareceu ter sido produzido por integrantes do movimento "Sou da Paz" e não por um grupo de jornalistas investigativos que, a rigor, têm um compromisso com a verdade.

Não que esperasse um postura isenta sobre este assunto por parte da Rede Globo. Afinal, as Organizações Globo são um instrumento de poder (que se confunde com o próprio poder) e um poder jamais fomenta o surgimento de outro poder (o povo armado), ainda mais quando seus interesses são antagônicos. Tolos são aqueles que pensaram diferente - acabaram como coadjuvantes de um espetáculo de mau gosto.

Como sói acontecer com as propagandas anti-armas, deixaram de lado toda racionalidade e apelaram para o emocionalismo barato: "Coitadinho do fulano, morreu! Tão bonzinho que ele era!" Nenhum número, nenhuma estatística foi apresentada para justificar a implementação de mais restrições à posse de armas no Brasil. Porque o programa não apresentou um país (ou uma cidade) que tenha reduzido seus índices de criminalidade através de legislação anti-armas? Não seria interessante mostrar uma exemplo desses? Será porque não existe esse exemplo?

Interessante notar que nenhuma pessoa com ponto de vista diferente (pró-armas) foi entrevistada. E não foi por desconhecimento. Afinal, em sua página na internet aparecem diversos "links" para várias organizações pró-armas, dentre as quais o ARMARIA ON-LINE que tenho o prazer de editar. Terá sido temor de uma opinião irrefutável? Aposto que sim.
Sem dúvida, a opinião do presidente da Taurus foi interessante mas, para o público, é uma opinião sem valor pois, afinal, ele lucra com a venda de armas, não é mesmo? Porque não entrevistaram um usuário de armas?
Como se não bastasse isso, o Sr. Murgel ainda teve suas observações ridicularizadas pelo programa, seja pela edição das cenas, seja pelo tom de voz utilizado pelo repórter, em off, para situar seus comentários.

Tantas oportunidades para fomentar um debate legítimo e autêntico foram perdidas. Ao falar sobre a Inglaterra, por exemplo, mostraram as rigorosas proibições existentes neste país, mas não ousaram falar do incrível aumento que ocorreu nos índices de criminalidade da ilha. Os assaltos a mão armada aumentaram 117% desde que as restrições ao uso de armas começaram a ser implementadas. É isso que a Rede Globo considera "aumento da segurança da população"?

Ao mostrar que os atiradores ingleses têm de ir a Suíça para praticar seu esporte, o programa perdeu boa oportunidade para mencionar que na Suíça todo cidadão que faz serviço militar é obrigado a levar seu fuzil de assalto para casa. Mesmo assim, os índices de criminalidade neste país são extremamente baixos e os crimes com armas de fogo praticamente inexistentes.

Ao mencionar o processo que o prefeito de Nova Orleans move contra as indústrias de armas, o Globo Repórter perdeu outra boa oportunidade de mencionar que a Louisiana é um dos 31 estados norte-americanos que adotaram leis "Shall Issue", onde a autoridade policial não pode negar o porte de arma se nada houver de desabonador contra o cidadão. Bem diferente do Brasil, onde o porte de arma é considerado um privilégio concedido a uns poucos apaniguados do poder, não é mesmo?

Também, recentemente, a Louisiana aprovou duas leis muito interessantes. A primeira diz que se um cidadão matar um invasor dentro de sua residência ele deve ser presumido inocente e, até prova em contrário, o homicídio será considerado como legítima defesa. A segunda lei diz que é permitido matar ladrões de automóvel, desde que seja no ato do roubo. Não é pitoresca a Louisiana? Será que os telespectadores do Globo Repórter não achariam esses dados interessantes?

O Globo Repórter também esqueceu de dizer que a primeira ação judicial contra os fabricantes de armas nos EUA já foi julgada (em 17 de novembro passado). Aconteceu no estado da Califórnia, mais precisamente em Alameda County (Dix versus Beretta USA), e o júri considerou - por unanimidade - que o fabricante da arma não pode ser responsabilizado pela irresponsabilidade do usuário.
Também não disse que um grupo de renomados juristas e professores de direito, de algumas das mais prestigiadas universidades americanas, uniram-se em uma ação coletiva de perdas e danos contra as cidades de Chicago e Nova Orleans, sob alegação de conspiração para a Violação de Direitos Civis, Abuso Processual e Criação Indevida de Barreiras ao Livre Comércio Interestadual. Aparentemente os investigativos jornalistas do Globo Repórter não acharam esses fatos dignos de serem mencionados.

E já que a reportagem foi aos EUA e a Inglaterra, porque não relataram o recente estudo do Departamento de Justiça dos EUA, em conjunto com a Universidade de Cambridge, que mostra que a Inglaterra apresenta quase todos os índices de criminalidade maiores que os EUA? Segundo esse estudo, a probabilidade de um cidadão ser roubado na Inglaterra ou País de Gales é 40 % maior que nos EUA. Viva o desarmamento!

A comparação das habilidades do atirador desportista com as de um assassino, ou um terrorista, chocou todos os atiradores brasileiros que assistiram ao programa. Porque o Globo Repórter não comparou essas habilidades com as de um soldado ou de um policial? Apenas esse fato, per si, revela a má fé e o preconceito dos produtores do programa.

O programa apresentou três casos onde cidadãos salvaram suas vidas atirando em legítima defesa. Nos três casos, se eles não atirassem no agressor estariam mortos ou teriam sido severamente feridos. Curiosamente, os três se mostraram arrependidos de seus atos. Em dois dos casos apresentados os protagonistas foram condenados e estão cumprindo pena em liberdade condicional. Quem poderia imaginar que alguém em liberdade condicional diria na televisão que não estava arrependido e que faria tudo outra vez?
Interessante que o único que foi inocentado também se declarou arrependido mas, misteriosamente, afirmou ser capaz de matar outra vez. Não deixa de ser uma postura interessante para quem está "arrependido".
No meu entender, os dois que foram condenados são exemplos de inépcia advocatícia.

Outra observação pertinente é que nos três casos apresentados, ao menos um dos protagonistas estava alcoolizado, quando não os dois. Ou seja: eram brigas de bêbados. Será que o Globo Repórter não encontrou alguém que tivesse usado sua arma para evitar uma agressão criminosa? Será que as armas só são usadas em brigas de bares?
Um estudo realizado pelo departamento de criminalística da Universidade da Flórida concluiu que os americanos usam suas armas defensivamente 2,5 milhões de vezes por ano. Será que a Globo não encontrou um único brasileiro que tivesse usado sua arma de forma legítima e justa?
Devo dizer que o dia que a probabilidade de ser agredido por um bêbado furioso for maior que sofrer uma violência criminosa, eu serei o primeiro a propor o desarmamento da sociedade. Até hoje já fui roubado à mão armada duas vezes na rua, sofri um roubo e um furto em minha residência e sofri uma tentativa de roubo em pleno centro do Rio de Janeiro. Nenhum de meus agressores/ladrões pareceu estar alcoolizado ou drogado, muito pelo contrário. Que maravilha seria o Brasil se só precisássemos nos preocupar com brigas de bêbados.

Em mais de vinte anos que freqüento clubes de tiro nunca presenciei ou soube de um acidente com atiradores. Para ser franco, já assisti a alguns disparos acidentais, mas nenhum causou dano graças as estritas regras de segurança adotadas nos clubes. Apresentar a dublê de modelo e policial Marinara Costa mostrando um tiro que ela mesma deu em sua perna não deixa de ser curioso e grotesco, além de evidenciar a falta de perícia da policial. Será isso o que a produção do programa acha que vai acontecer com quem andar armado?

Finalmente, gostaria de falar sobre o sistema de consulta ao público. Eu e vários amigos (mais de dez) tentamos insistentemente ligar para o número apresentado e dar o nosso voto a favor do porte de arma. Misteriosamente o número estava sempre ocupado. Será que só o número contra armas estava livre? O resultado apresentado foi quase 70% contra as armas, um resultado que contraria todas as demais pesquisas populares feitas sobre o assunto no Brasil e no exterior.

Vale a pena perguntar qual a metodologia de aferição utilizada, especialmente no sentido da bilhetagem e controle dessas ligações, uma vez que em outros programas da emissora, como o "Você Decide", os apresentadores mencionam que o telespectador pode "...ligar quantas vezes quiser, já que a ligação é gratuita!..."; ora, se a contagem dos votos pode ser duplicada, é evidente que toda a pretensão de seriedade da "votação" vai por água abaixo!

No quadro seguinte, o apresentador pergunta se deve-se proibir a venda legal de armas ou perseguir o contrabando. Segundo vocês, o público respondeu majoritariamente por coibir o contrabando. Ora, essa resposta quase que contradiz a anterior. Volto a perguntar: que validade têm esses números apresentados pelo Globo Repórter? Porque vocês não fizeram a seguinte pergunta aos telespectadores: "Você atiraria em alguém para proteger sua vida ou dos seus familiares? Esta me parece uma pergunta adequada, o Sr. não acha?

Uma dúvida que me aflige é sobre a real motivação deste programa. O Brasil já possui uma das mais rigorosas legislações de armas dentre os países democráticos. A densidade de armas legais por habitante é uma das mais baixas do mundo. Será que realmente a direção da Rede Globo entende que precisamos de mais restrições? Ou será que este libelo anti-armas foi para compensar as centenas de filmes classe B, levados ao ar por esta emissora, apresentando cenas de violência explícita e fazendo apologia do uso de armas como solução para qualquer problema? Até mesmo os desenhos animados exibidos em horário matinal apresentam a violência como padrão normal de conduta. Terá sido o Globo Repórter um Globo Expiação? Um Globo Mea Colpa?

Veja, Sr. Editor, que num único programa que abordou um tema sobre o qual temos algum conhecimento encontramos todos esses erros, falsidades e distorções. Que absurdos a TV Globo não nos impinge quando aborda assuntos a respeito dos quais não estamos familiarizados? É por isso que a imprensa, como um todo, perde, a cada dia mais, sua credibilidade.

Atenciosamente,

Leonardo Arruda

Editor do ARMARIA

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