CORREIO DO CIDADÃO Nº 068

RECOMPRA É CAUSA DO COMÉRCIO ILEGAL

divulgado em 27/JAN/98

fonte: The Sunday Mail, 24/jan/99
Por Chris Grifith

QUEENSLAND/AUSTRÁLIA - A recompra nacional de armas, no valor de A$500 milhões, falhou, declarou o mais conceituado especialista em armas da polícia de Queensland.

O inspetor John McCoomb disse que a legislação sobre armas, aprovada após o massacre de Port Arthur em 1996, levou o comércio de armamentos para o submundo.

"Uma vez no mercado negro, elas estão lá para qualquer um comprar" disse ele.

Segundo McCoomb, "com os contatos certos" ainda é possível adquirir um fuzil semi-automático como o Armalite AR-10 empregado por Martin Bryant no massacre.

O inspetor McCoomb, que chefia a divisão de licenciamento de armas, disse que os australianos só entregaram uma fração das armas proibidas existentes na comunidade.

Até agora, pouco mais de 643 mil armas foram entregues a nível nacional, sendo 131 mil em Queensland.

Era impossível calcular o número de armas na Austrália, mas 643 mil é uma fração de apenas dois modelos de armas agora declarados ilegais no país.

"Cerca de 800 mil exemplares de SKK e SKS, em versões automáticas e semi-automáticas, foram importadas da China na década de 80 como parte do acordo comercial entre os governos australiano e chinês", declarou McCoomb. "Além disso, estimava-se a presença de 1,2 milhões de carabinas semi-automáticas Ruger 10/22 na Austrália. Isto significa cerca de 2 milhões de exemplares de apenas dois tipos de armas no país".

O inspetor McCoomb declarou que a polícia sabe que existem armas ilegais em abundância para delinqüentes cometerem atrocidades diversas.

Em primeiro de novembro passado, membros de gangues dispararam uma saraivada de balas contra um posto policial em Sydney usando armas automáticas e semi-automáticas em calibre 9mm. Cinco policiais estavam dentro. Esse tipo de tiroteio era exatamente o que o esquema de recompra pretendia evitar.

O inspetor McCoomb disse que os crimes com armas aumentaram apesar da recompra, especialmente em Sydney.

"Lá as armas estão nas mãos de gangues, viciados, do crime organizado, gangues de motoqueiros e todo tipo de escória."

Ele estima que metade as armas em Queensland estão em situação ilegal.

"Fizemos um cálculo conservador e estimamos entre 1,2 a 1,3 milhões de armas em Queensland. Hoje temos 520 mil armas registradas. Mesmo contando as 130 mil armas recompradas, ainda estamos muito aquém da estimativa."

Em termos de pessoas, o inspetor McCoomb calcula que apenas 25% dos proprietários de armas estão licenciados. Os donos das armas preferiram ir para a clandestinidade e, mesmo os que registraram suas armas, não registraram todo seu arsenal.

"Sempre que fazemos um levantamento após algum incidente, descobrimos que se o sujeito tinha cinco armas registradas é porque, na realidade, possuia dez. A percepção entre os proprietários de armas é que cedo ou tarde todas as armas registradas serão confiscadas." (...)

Os crimes envolvendo armas de fogo dispararam desde a recompra, disse McCoomb.

Em 1997, o ano em que a recompra foi completada, os roubos contra estabelecimentos envolvendo armas aumentaram 39%, e roubos a mão armada contra pessoas subiram 28%.

A alfândega da Austrália admite que apenas uma fração dos containers que adentram o país são revistados quanto a presença de armas.

O porta-voz da alfândega australiana, Leon Bedington, disse que um fiscal precisaria de oito dias para verificar integralmente o conteúdo de um único container.

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