O CORREIO DO CIDADÃO Nº 084

NÃO SÃO AS ARMAS

divulgado em 30/MAI/99

Por Helen Smith
Publicado em Nando Times, 11/05/99

As bombas ainda estavam sendo desativadas na escola Columbine em Littleton, estado do Colorado (EUA) quando ativistas e grupos de interesse começaram a usar a tragédia como exemplo para justificar seus projetos, culminando com o "encontro sobre violência" realizado esta semana na Casa Branca.

A maioria dessas idéias de nada adiantaria para prevenir o massacre que, em tese, serviu para justificá-las. É como se, em função do naufrágio do Titanic, exigíssemos melhorias no sistema de incêndio do navios. Mas esses grupos de ativistas têm suas próprias motivações e uma oportunidade dessas não pode ser desperdiçada. Muitos desses grupos eram de cunho religioso que apontavam a falta de orações antes das aulas como a causa da tragédia. Porém, muito mais longe da realidade e muito mais proeminentes na mídia eram os grupos anti-armas.

Assim como a Coalizão Cristã afirmava que trazendo Deus de volta às escolas, ou ao menos sessões de oração com os professores, preveniria a repetição dessas tragédias no futuro, também Sarah Brady, e outros porta-vozes anti-armas, afirmavam que tirando-se as armas dos lares obteríamos o mesmo efeito. A diferença entre eles é que os anti-armas têm o presidente Clinton a seu lado.

Não importa que os assassinos de Littleton fizeram a maior parte de seu trabalho com bombas. A proibição das armas é um argumento falho por questões muito mais elementares. Esse argumento é baseado em duas premissas fundamentais. Como qualquer pessoa que tenha trabalhado com crianças assassinas - tal como eu - pode dizer, ambas estão erradas.

A primeira falsa premissa é que as crianças hoje teriam mais acesso às armas que no passado. Mas isso não é verdade. De fato, existem mais armas hoje em dia que no passado, mas o percentual de lares com armas permanece o mesmo de décadas atrás. E a maioria das armas, antes orgulhosamente exibidas sobre a lareira, hoje permanece em locais trancados. (...)

A segunda premissa falsa é que, em não havendo armas facilmente disponíveis, os futuros assassinos nada fariam. Os pequenos matadores de Littleton desmentiram essa tese montando um arsenal de artefatos explosivos que faria inveja aos terroristas do Weather Underground. Mas o problema vai mais além. Essa premissa parte da tese que esses meninos seriam pessoas inofensivas, quase normais, que se tornaram perigosos devido a presença das armas. A verdade é que eles eram perigosos de qualquer forma.

Adolescentes homicidas quase sempre já tiveram complicações anteriores com a polícia. Tipicamente, eles mostram sinais de problemas mentais, uso de drogas, casos pregressos de violência e muitos problemas com as autoridades juvenis. Este é certamente o caso dos assassinos de Littleton. Tanto Klebold quanto Harris já tinham tido problemas com as autoridades, mas foram deixados fora de programas corretivos apesar dos sinais bastante óbvios de conduta violenta.

Os fuzileiros navais ensinam que são as pessoas que são mortais. As armas são apenas ferramentas. Meninos violentos tendem a tomar a mesma atitude. Um de meus clientes preso sob a acusação de assalto disse: “Podem levar minhas armas (de fogo). Eu usarei uma faca, bomba, fogo ou o que for”. Um outro, de 16 anos, disse-me recentemente: “A violência não vem da televisão, música, cinema ou da facilidade em obter armas. Eu tenho facilidade em conseguir armas e fico furioso de vez em quando, mas não saio por aí matando gente.” Esse também é o consenso entre quase todos que já trabalharam com adolescentes violentos. Gitta Sereny, uma jornalista que já escreveu inúmeros artigos sobre crianças violentas, declarou na revista Salon: “Se esses meninos não tivessem armas de fogo, provavelmente teriam alguma outra coisa”.

O verdadeiro problema não é que os adolescentes americanos de hoje possuam mais acesso a armas – ou a bujões de propano e temporizadores de cozinha – do que a décadas atrás. Isso não é verdade. O verdadeiro problema é que hoje eles sentem desejo de utilizá-las para chacinar os outros. Como observa Sereny, “eles atingem esse ponto sem que os adultos percebam.”

Remendos políticos podem avançar o programa de alguns grupos de interesse e fazer as pessoas se sentirem bem, mas não resolverão o problema. Pior ainda, podem evitar que ações concretas sejam tomadas para prevenir essas tragédias. Ao invés de soluções simbólicas, precisamos é de mais orientadores nas escolas, um programa de tolerância zero contra a opressão dos meninos mais fortes contra os mais fracos e o reconhecimento que jovens com problemas comportamentais são mais propensos a ser um risco no futuro. Essas são as soluções reais. Qualquer coisa a menos não tem a menor chance de sucesso.
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A Dra. Helen Smith é psicóloga forense especializada em crianças violentas.
Seu web-sítio contém informações e conselhos para estudantes, pais e educadores sobre o tema.

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