Antigamente, quando uma nação imperialista queria impor sua vontade à outra, enviava um navio de.guerra ou, quando muito, uma flotilha, para exibir seu poder militar e mostrar as conseqüências que poderiam advir caso a nação ameaçada não concordasse com seus desejos. Era a política da canhoneira, ou "política do big stick".

Os tempos mudaram. Com a superpopulação do mundo e a difusão da tecnologia de fabricação de armamentos leves, uma única canhoneira não é capaz de alterar um quadro político-econômico desfavorável. Hoje em dia, para "mostrar a bandeira" com eficiência é preciso movimentar uma força-tarefa (task-force) composta de um ou mais porta-aviões e um incontável número de navios de apoio e submarinos. Em outras palavras, a despesa para criar uma ameaça militar concreta é, atualmente, muito maior do que foi no passado. Além disso, num mundo coberto por um sistemas de informações tão eficiente, o desgaste perante a opinião pública com esta forma de impor a vontade é, muitas vezes, insuportável. Tornou-se imperioso encontrar outra forma de agir.

A nova forma de agir encontrada pelas nações hegemônicas foi a da imposição de doutrinas econômicas que contemplem seus interesses. Claro está que em qualquer nação existem pessoas inteligentes suficientes para perceber o que é bom e o que é ruim para seu país. Portanto, essas doutrinas só têm possibilidade de vingar com um sensível aporte financeiro e outras vantagens dadas às elites e aos chamados formadores de opinião do país. Tudo isso, é claro, auxiliado por uma grande campanha nos meios de comunicação. Notar que este aporte financeiro ainda é ínfimo se comparado ao custo de uma intervenção militar e, além disso, tem se mostrado muito mais eficiente.

No Brasil, essa estratégia dos países desenvolvidos para nos manter na condição de colônia tem encontrado campo fértil para se desenvolver. Em novembro de 1989, o Depto. de Estado dos EUA, através do Institute for International Economics, chamou o FMI, o Banco Mundial e o BID para uma reunião em Washington. Lá, Tio Sam deu um murro na mesa e disse: "Esse negócio de emprestar meu dinheiro para os Latino Americanos é muito bonito, mas o que eu ganho com isso?" Esta reunião (ou reuniões) foi chamada de Consenso de Washington e a doutrina econômica que daí surgiu foi chamada de doutrina neo-liberal. Os agentes executores (impositores) dessa doutrina (FMI, BID e Banco Mundial) passaram então a condicionar todas as suas ações à aceitação por parte dos países Latino-Americanos dos preceitos neo-liberais.

O novo governo brasileiro, que assumiu em janeiro de 95, tem tudo pronto para continuar com a implementação das políticas neo-liberais iniciadas pelo presidente Collor. Muito já foi feito, como por exemplo, abertura unilateral das importações, o atrelamento da moeda ao dólar, a redução do superávit comercial, investimentos diretos estrangeiros, fim da pesquisa nuclear autônoma, lei de patentes, privatização, etc... Ainda falta, porém, muito a fazer, como por exemplo, o fim dos monopólios estratégicos, a abertura do subsolo ao capital estrangeiro, fim da pesquisa aeroespacial, desregulamentação geral, etc...

A política neo-liberal, entretanto, não tem como objetivo único apenas proporcionar boas oportunidades comerciais às empresas dos países desenvolvidos. É também, uma forma de assegurar que os países do terceiro mundo sejam uma fonte de suprimento de insumos estratégicos, como por exemplo, petróleo, metais raros, minerais nucleares e, atualmente, material genético. A exportação desses insumos a preços "competitivos" é fundamental para a manutenção do modo de vida dos países do primeiro mundo, daí a ênfase com que se combate o monopólio do petróleo e as restrições ao capital estrangeiro na mineração.

Para que isso aconteça sem sobressaltos é muito importante reduzir o Estado (assim como a auto-estima e o patriotismo do povo) à sua expressão mínima. É fundamental, também, diminuir o máximo possível a capacidade de defesa do país. Por isso surgem campanhas constantes contra os gastos militares afirmando a inutilidade das forças armadas (FA's) ou o seu tamanho exagerado. É comum vermos os jornais compararem o preço de um avião (ou um tanque) ao preço de uma casa popular. É comum, também, ouvir-se frases de efeito como, "o nacionalismo é o último refúgio dos canalhas". De fato, patriotismo e nacionalismo, nos últimos tempos, são palavras fora de moda. O quente agora é "globalização" e "inserção competitiva".

O enfraquecimento da capacidade de defesa do país é a garantia de que uma nova onda nacionalista não terá forças para reverter este quadro de dominação. Convém lembrar que o candidato Enéas, com todo o seu exotismo e contra todos os meios de comunicação, conseguiu 7% dos votos na última eleição com uma plataforma política calcada no nacionalismo radical. Sem dúvida este é um sentimento que toca fundo a alma do povo.

A última palavra em ataque às Forças Armadas é a política de transformá-las em forças policiais. Por esse motivo é que a intervenção das Forças Armadas no Rio de Janeiro tem sido tão aplaudida. Os leitores podem reparar que os jornais que mais incentivam essa ação são aqueles comprometidos com o ideário neo-liberal. (Colocar o Exército para abrir estradas é também uma forma mais sutil de incutir no povo a noção de inutilidade das Forças Armadas).

Todos sabem que o banditismo combate-se com investigação e não com demonstrações de força. E para fazer uma boa investigação basta vontade política dos governantes.

A separação entre polícia e exército, assim como a transformação desse último em poder nacional e não mais poder do rei (como rei entenda-se os dirigentes do país) é uma conquista da civilização. É muito estranho que jornalistas, pretensamente intelectuais, advoguem o retorno a esta condição medieval.

Outro aspecto pouco notado (pela maioria das pessoas) é o empenho da imprensa neo-liberal em promover o desarmamento da população. Um povo armado é, antes de tudo, um povo livre. Convém lembrar que os vietnamitas expulsaram franceses e americanos de seu território básicamente com armamento leve. Desta forma, desarmar a população é muito importante, caso a política das canhoneiras (intervenção direta) tenha que voltar.

Como garantir a integridade de nosso território e desestimular uma intervenção armada alienígena em nosso país com orçamento tão reduzido para nossas FA's? A solução clássica (e mais barata) para esse problema é armar a população. Exatamente o oposto do que advogam os adeptos do neo-liberalismo. Para isso entendemos que a formação de uma Guarda Nacional, sob o controle do Exército, integrada por voluntários e equipada com armamento leve, seria o ideal. É assim que, por séculos, a Suiça tem desestimulado a invasão de seu território. Foi esta a solução que os ingleses buscaram em 1940 quando a invasão alemã da Ilha era iminente (lembram-se do lema "mate um antes de morrer"?).

A Guerra das Malvinas e o recente conflito no Golfo Pérsico, mostraram que é impossível um país subdesenvolvido enfrentar de igual para igual o armamento tecnologicamente mais sofisticado das nações hegemônicas. Até porque o armamento de última geração nunca é vendido aos países periféricos. Por outro lado, os vietnamitas, afegãos e atualmente os tchetchênios, nos mostram que fuzis, granadas e lança-rojões são equipamentos suficientes para executar uma guerra de atrito politicamente insustentável para os países do 1º Mundo.

Sem querer diminuir a importância do re-equipamento e da modernização de nossas FA's, está na hora de nossos militares deixarem de lado a velha desconfiança que nutrem pelos civis e considerá-los aliados importantes na função constitucional de defender nosso território.

O nome Guarda Nacional até hoje causa mal estar no meio militar. Isto porque, entre outros vícios, o Império a utilizou para diminuir o poder do Exército. Não é esta Guarda Nacional que advogamos. A Nova Guarda Nacional deverá estar sob o controle do Exército e servir ao país e não aos governantes. Ela existe em diversos países, mesmo naqueles que possuem poderosas FA's, pelo simples fato de serem baratas e eficientes. Sem dúvida, a existência de uma Guarda Nacional diminui a possibilidade de golpes de estado e a democracia ficará reforçada.

Vemos como algo extremamente salutar para o país a realização de exercícios militares conjuntos entre o Exército e elementos civis da Guarda Nacional. Ambos deixariam de temer uns aos outros e o país, como um todo, sairia ganhando. Mais ainda, uma Guarda Nacional traria de volta ao povo os conceitos "arcaicos" de patriotismo, defesa e soberania nacional, tão necessários e tão em falta nos dias de hoje.

L.A.


Retornar ao ARMARIA ON LINE.