Horizonte Nebuloso.

Editorial do ARMARIA #15 - out/94

Acabamos de assistir a maior eleição já realizada no Brasil, abrangendo a presidência da república, governos estaduais, câmara e senado federal e câmaras estaduais. Uma eleição monstro para satisfazer o ímpeto democrata de qualquer cidadão.

As previsões se confirmaram e Fernando Henrique Cardoso, da coligação PSDB/PFL, empalmou a presidência já no primeiro turno, enquanto os partidos de esquerda aumentaram sua representação no congresso em cerca de 30%.

Quais os reflexos desse novo governo que se inicia sobre o nosso "hobby "? Bem, não é preciso ser nenhuma pitonisa para prever o que acontecerá ao país com a política econômica preconizada por FHC e entusiasticamente apoiada pela mídia. Basta olharmos para o Chile e Argentina para vermos as conseqüências do receituário neo-liberal (indicado para todos os países sub-desenvolvidos pelo FMI e Banco Mundial após o célebre Consenso de Washington), aplicado sobre a economia desses países: moeda forte, salários baixos, abertura total à concorrência externa, fim dos monopólios estatais estratégicos, concentração dos negócios em macro-empresas, grande concentração de renda e alto índice de desemprego. Tudo isso significa empobrecimento geral da população e mais poder e riqueza para as multinacionais e a plutocracia nativa.

Dentro desse quadro de iniqüidade social devemos esperar um maior empenho das trinta e cinco famílias que dominam o país em desarmar a população. Afinal, não há nada mais perigoso para o status quo que uma sociedada armada. O aumento da criminalidade, que fatalmente advirá, será o mote para esta campanha.

Já começamos a ver os primeiros movimentos nesse sentido: A Associação Comercial do Rio de Janeiro, com o apoio do jornal O GLOBO, iniciou um movimento para pressionar os deputados federais eleitos por este estado para que aprovem a criminalização do porte de arma.

Iniciativas como a do prefeito César Maia, da cidade do Rio de Janeiro, de proibir a venda de armas e munições no município, deverão se multiplicar pelo resto do país. Os meios de comunicação intensificarão os ataques ao uso de armas e, como corolário, a polícia continuará cometendo "lamentáveis equívocos" com atiradores e colecionadores.

Por outro lado, não devemos esperar dos partidos de esquerda nenhuma oposição a esta política. Esta apatia deve-se a tres motivos principais: O primeiro é de cunho ideológico - O ideário clássico das esquerdas em todo o mundo é que o Estado deve prover segurança para o cidadão. Não haveria motivo, portanto, para ele se armar. O segundo motivo é de cunho prático - na América Latina as forças de direita se armam e se organizam mais rapidamente que as forças de esquerda, haja visto os sucessivos massacres que grupos para-militares impingem às organizações de esquerda nos países mais atrasados e, até mesmo, nas zonas rurais brasileiras. O terceiro motivo é cultural - no Brasil os partidos de esquerda estão dissociados do povão e são formados, principalmente, por intelectuais que têm ogeriza a armas. A maioria deles nem serviço militar fez. Alguém consegue imaginar o Gabeira empunhando uma metralhadora? E no entanto , quem diria, ele já foi guerrilheiro (guerrilheiro brasileiro, uai!).

Num clima como este não devemos esperar um aumento do número de entusiastas em nosso esporte. Com os ataques cada vez maiores da imprensa, assistiremos uma forte pressão dentro dos clubes para o fechamento dos estandes de tiro. A tendência, para os próximos anos, é nosso esporte concentrar-se cada vez mais nos clubes especializados. Para variar, o Rio de Janeiro sai novamente na vanguarda brasileira do atraso, com o fechamento do estande do Flamengo e o próximo fechamento do Fluminense.

Com o empobrecimento geral da sociedade, também não deverá aumentar o número de participantes nas competições de tiro. As taxas de inscrição deverão ser bastante reduzidas para não afugentar ainda mais nossos parcos atletas. Não devemos esperar nenhuma redução dos altos impostos incidentes sobre armas e munições. Pelo contrário, é provável que inventem alguma nova taxa para desestimular sua aquisição e garantir que só as camadas mais abastadas da população tenham acesso a elas (pobre armado é um perigo!)

O mercado de armas de coleção deverá apresentar forte tendência vendedora, continuando o movimento que observamos desde o início do governo Collor. Quem tiver dinheiro em caixa poderá fazer boas aquisições nos anos vindouros.

A questão da caça estará complicada. Ao mesmo tempo em que haverá uma pressão para liberar a caça de animais exóticos introduzidos no país, tal como os javalis no Rio Grande do Sul, teremos uma grande demagogia dos partidos de esquerda sobre este assunto. O mote deverá ser o seguinte: "Como podemos permitir a caça para os ricos, com suas armas sofisticadas, enquanto proibimos a caça com armadilhas para o pessoal de baixa renda?"

Este falso dilema só prospera em nosso país devido a total ignorância dos brasileiros em relação às peculiaridades da caça. Na história do mundo, a caça sempre foi um privilégio dos ricos (ou dos nobres). Se permitirmos que as comunidades carentes se alimentem com proteínas de animais silvestres, não sobrarão nem os ratos para contar a história.

Bem amigos, em poucas palavras este é o panorama que vislumbro para o futuro próximo. Torço, de coração, para que esteja enganado e nada disso se concretize.

LA.


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