Neste muro estarão afixadas as maiores hipocrisias e ignorâncias sobre armas encontradas na imprensa brasileira, ditas por jornalistas e/ou autoridades, para pasmo dos nossos leitores e pessoas de bom senso.

Colabore conosco expondo ao ridículo nossos detratores. Enviem-nos todos os absurdos que encontrarem na imprensa, via fax ou correio, para: Jornal ARMARIA - Av. Graça Aranha, 81 sala 905 Rio de Janeiro - RJ - Brasil 20030-002. FAX: (021)220-6934.
Podem deixar a justificativa por nossa conta.

Ignorância nº 2

Autor: Bismael B. Moraes (Pres.da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo); jornal: O Estado de São Paulo; Data: 31/10/97

Porte de Arma e Culto da Violência. - Desde que o ser humano existe sobre a face da terra, com ele habita o medo... De início, a pedra, o pau... Depois a espingarda, o arcabuz... E as armas foram se sofisticando, ora com automatismo, silenciador, mira a laser (para segurança do tiro) ou ultra violeta (para o atirador enxergar no escuro), ora usando projéteis blindados ou também projéteis explosivos (para causar mais estragos no alvo), etc. E o medo vem se transformando num grande filão econômico e possibilitando um aumento da busca por armas e munições. Disseminou-se a cultura de que segurança se faz com armas de fogo... E aí está enorme risco para a vida social.
Como uma espécie de roda viva, os grupos e indivíduos, atacados, se armam e, uma vez armados, também atacam. Não é por outro motivo que se fala tanto em mundo militarizado, com armas das mais variadas espécies pondo em risco a humanidade. Além disso, no século presente, o cinema e a televisão muito vem contribuindo para o culto às armas. Andar desarmado, em determinados lugares, é uma desonra e, às vezes, uma deliberada "afronta" aos cidadãos locais, como se fora "pouco caso" dos que sempre estão armados.
As estatísticas internacionais... mostram que, na atualidade, o mundo gasta cerca de US$30 milhões por hora com as guerras e os seus acessórios. Multiplique-se tal número por dia, mês e ano e se terá uma pálida idéia do que se poderia fazer em benefício de milhões de seres humanos que vivem em extrema pobreza e analfabetismo.
A recente lei do porte (lei nº 9437) chega em boa hora, mas ainda é tímida. Os atos dolosos, contrariando a lei, de fabricar, vender, alugar, ocultar, portar, e empregar arma, pela sua gravidade, mereceriam penas de reclusão de dois a quatro anos, e não apenas de detenção. Há, na lei, duas medidas que merecem todo aplauso. A primeira, vedando "a fabricação, venda, comercialização e importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com essas se possam confundir" - trata-se de procedimento salutar do legislador, para não alimentar na criança sonhos de mocinhos ou super-heróis, preservando-lhes a liberdade futura, prevenindo crimes e poupando vítimas. A segunda, no artigo 18, ao vedar "ao menor de 21 anos" a aquisição de armas de fogo - pois estatísticas recentes mostram que, em regra, abaixo dessa idade há uma busca de auto-afirmação e, com arma na mão é um passo para o exibicionismo e para o crime.
Arma de fogo não deve ser produto de primeira necessidade. É instrumento próprio para atos violentos. Não pode existir pessoa pacata quando armada. Andar armado, por si só, é atitude de superioridade e exibicionismo. Arma de fogo é peça que se presta a todos os crimes mais graves - homicídio, roubo, seqüestro, estupro - e pode ser acionada a distância, no escuro ou de emboscada. Toda dificuldade que for imposta ao porte de arma, sem dúvida, será em favor da vida e se refletirá na diminuição da violência e do crime.

Justificativa:

Há muito tempo não aparecia na imprensa um artigo recheado com tanta ignorância e preconceito. E pasmem: o Dr. Moraes é Mestre em Direito Processual pela USP.
O Dr. Moraes aplaude a lei que torna criminosos pacatos cidadãos apenas por possuirem uma arma em casa, ou seja: aplaude a condenação de alguém baseado na suposta intenção de um crime. (Será esse seu conceito de justiça?).
Não sabemos se sua confusão entre armas militares e civis é proposital ou não. O que tem a ver o revólver do cidadão brasileiro com o arsenal nuclear dos EUA?
O autor fala de armas automáticas, silenciadores, projéteis blindados (o que será isso?) e projéteis explosivos, como se essas peças estivessem à disposição dos cidadãos brasileiros. Em que país ele vive? O parágrafo contém duas pérolas que, certamente, divertiram nossos leitores: mira laser serve para dar segurança no tiro e luz ultra-violeta serve para enxergar no escuro. Seria cômico se não fosse trágico. Observar que projéteis explosivos são usados apenas pela polícia de certos países (notadamente na guarda de aeroportos), para estancar de forma imediata a ação de terroristas, assim como evitar que o ricochete atinja inocentes. Não são usados por militares desde a Convenção de Genebra e também não são vendidas à civis em nenhum país do mundo. É perdoável que o autor não saiba desses detalhes. Afinal, ele é apenas um policial.
Segundo o autor, andar desarmado em determinados lugares é uma afronta aos cidadãos locais. Novamente perguntamos, em que país ele vive? Que locais são esses? Provavelmente o Dr. Bismael estava pensando no meio policial, onde um "tira" que anda desarmado deve ser visto com justificada desconfiança. Um policial desse tipo não deve querer nada com serviço arriscado.
Em outro trecho o autor revela desconhecimento sobre a lei 9437 e suas motivações. As réplicas e simulacros de armas (e não armas de brinquedo) foram proibidas para que marginais não fizessem delas uso como se fossem reais. O legislador não pensou em impedir as brincadeiras de "cowboy", polícia e ladrão, ou mesmo super-herói das criancinhas. Além do mais, inúmeros psicólogos modernos já entendem que esse tipo de brincadeira serve para socializar as crianças e não as torna mais ou menos violentas. O autor não deve conhecer os jogos modernos de computador e video-game, que as crianças da classe média brasileira possuem, com suas cenas de violência explícita e gratúita. Se esses joguinhos formarem criminosos o Japão está perdido...
Outro desconhecimento, este imperdoável para um policial, é quando o autor aplaude a proibição, constante na lei, de menores de 21 anos adquirirem armas legalmente. Será que ele não sabe que essa proibição existe no Brasil desde 1936? Como pode um agente da lei desconhecer este fato?
O último parágrafo fecha com chave de ouro o festival de sandices. Nele o autor declara que não pode existir pessoa pacata armada. Será que os juizes, promotores, agentes da Receita Federal, defensores públicos, deputados, senadores (notar que não citei militares ou policiais) e todos os outros privilegiados membros da elite burocrática brasileira, que possuem portes de arma, são violentos? Estará ele dizendo que os colecionadores e atiradores são pessoas violentas?
O autor enumera uma série de crimes que, segundo ele, podem ser praticados com uma arma de fogo. Todos os crimes elencados também podem ser praticados com um automóvel - e daí?
Finalizando, o Dr. Moraes afirma que toda restrição ao porte de arma será em favor da vida (de quem?) e diminuirá a violência e o crime. Não é isso o que as estatísticas nos EUA (e outros países) mostram. É justamente o oposto: quanto mais cidadãos armados na rua, menores os índices de criminalidade. É por isso que 31 estados dos EUA liberalizaram o acesso ao porte de arma nesses últimos tres anos.
Recomendamos ao Dr. Moraes que tente superar seu preconceito sobre as armas e ler um pouco mais sobre o assunto antes de escrever o próximo artigo.

Hipocrisia n° 2

Autor: Guilherme Fiuza (jornalista); Jornal: O GLOBO; Coluna OPINIÃO; Data: 28/12/96

Indefesos de arma na mão. - ...Cidades como e Rio de Janeiro se horrorizam - com toda razão - com o cerco dos bandidos e seus AR-15, AK-47 e Sig Sauer, mas as ocorrências policiais também estão repletas de pistolas portáteis, legalizadas e pertencentes a cidadãos de ficha limpa. Foi-se o tempo em que a violência urbana era privilégio dos criminosos. ...
Uma arma na mão tem sido promessa de final trágico para situações banais, como discussões em trânsito, crises de ciúmes, crises de depressão (que acabam em suicídio), sustos, disparos acidentais, além de reações frustradas a assaltos. A seccional paulista da OAB já mostrou, em estudo recente, que em cada 16 reações armadas a assaltos (ou outras abordagens criminosas), a vítima só leva vantagem uma vez. ...
Para muitos, portar uma arma - e eventualmente usá-la - é garantia de uma emoção que a vida não lhes tem trazido; para outros tantos - sobretudo nos guetos - o ato de matar é uma possibilidade cotidiana de catarse, como a cachaça e o futebol (às vezes, uma arma é mais fácil de conseguir que uma bola). ...
Acreditar que exista uma linha divisória entre os cidadãos de bem, com suas armas registradas, e os marginais com suas armas ilegais, é o mesmo que confiar numa separação olímpica entre o vício e a virtude. São fartos os exemplos (inclusive na classe média) de que, muitas vezes, a arma faz o ladrão, o bandido de ocasião, o covarde ou o monstro. ...
Espíritos armados até os dentes só serão dissuadidos por um bombardeio cirúrgico de informações. ...

Justificativa:

Este artigo não é apenas mais um dos libelos repletos de preconceitos e lugares comuns que aparecem a todo momento na imprensa brasileira. Ele é emblemático porque, pela primeira vez, é dito com todas as letras que não há diferença alguma entre as armas dos cidadãos e as armas dos marginais. Podemos esperar daqui para frente outros artigos desse teor preparando o terreno para o confisco ou a proibição total da venda de armas no país.
No mais, todo o resto é composto dos velhos lugares comuns, a saber:
a) Uma arma é promessa de final trágico... uma arma faz o ladrão... - O autor pega as excessões e os acidentes para justificar a regra. A verdade é que menos de 2% de todas as armas produzidas no mundo tem uso criminoso. Supor que todo aquele que têm uma arma é um imbecil abrutalhado, ou um desonesto, ou mesmo um suicida é, no mínimo, risível.
b) O autor cita o estudo (estudo?) da OAB paulista que contradiz as pesquisas da Universidade da Flórida, da Universidade de Chicago, do FBI, do Ministério da Justiça dos EUA e outros. Segundo o Prof. Kleck, em seu premiado trabalho de criminologia, em 76% dos confrontos armados entre bandidos e cidadãos não chega a ser disparado nenhum tiro, e em menos de 2% há vítimas.
c) Uma arma é mais fácil de se conseguir que uma bola... - Nessa o autor se superou. Em que país ele vive?
d) Finalmente o autor diz qual é a estratégia que se deverá ser seguida: um bombardeio cirúrgico de informações. Uma verdadeira lavagem cerebral (quase uma lobotomia) na opinião pública brasileira.

Hipocrisia n°1

Autor: Ricardo Boechat; Jornal: O GLOBO; Coluna SWAN; Data: 05/4/96

III Guerra - Baseada num privilégio concedido pelo governo às entidades esportivas, a Federação Brasileira de Tiro está tentando importar dos EUA, sem ônus alfandegário, dois milhões de cartuchos de vários calibres.
Em ofício enviado ao Comitê Olímpico Brasileiro, a entidade diz que a encomenda destina-se ao treinamento de seus filiados.
Eles devem estar se preparando, no mínimo, para invadir os países do Mercosul.
Afinal, toda a produção do maior fabricante nacional de cartuchos não totaliza, por ano, nem metade daquele arsenal.

Justificativa:

O jornalista insinua que cartuchos de munição não são material esportivo, esquecendo que o esporte do tiro é uma modalidade olímpica onde, aliás, o Brasil conseguiu sua 1ª medalha de ouro.
O jornalista estranha a quantidade importada, traçando um falso paralelo com operações militares.
Lembramos que disparar 200 tiros num dia de treinamento é considerado o mínimo para um desportista interessado em competir. Para almejar tornar-se um campeão, 500 tiros é a média recomendada. Levando-se em conta que a Confederação Brasileira de Tiro possue 10 mil afiliados, percebe-se que os dois milhões de cartuchos importados são apenas suficientes para um único dia de treinamento razoável.
Quanto a invadir os países do MERCOSUL, lembramos que nesses países não existe essa "frescura" de calibres proibidos. Nossa "tropa de atiradores", armados de espingardas e carabinas .22LR, estaria em franca desvantagem em relação aos "nuestros hermanos".
Quanto à produção nacional de munições, o autor demonstra total ignorância sobre os números da CBC que exporta a maior parte de sua produção.
A notícia, que teve chamada na 1ª página do jornal, insinua irregularidades e tem por objetivo denegrir a imagem daqueles que gostam de armas.

Ignorância n°1

Autor: não identificado; Jornal: Jornal do Brasil; Data: 08/10/96

Nova arma do tráfico preocupa a polícia
Entre o arsenal apreendido anteontem pela Polícia Militar no Morro do Adeus, em Ramos, subúrbio da Leopoldina, e em recentes operações nas favelas do Morro do Alemão, também na Leopoldina, uma arma vem causando preocupação às autoridades. O fuzil suíço SIG-SAUER, arma capaz de disparar 700 tiros por minuto, deixando para trás o já famoso AR-15.
A preocupação da polícia ... ...justifica-se: são armas leves (4Kg) de assalto, de manuseio e recarregamento relativamente fáceis e potência superior a qualquer outro fuzil jamais usado pela PM ou Polícia Civil. Sua principal característica é a precisão. Em superfícies pouco densas, como o corpo humano, as balas tomam a posição vertical após o impacto, causando enorme estrago. ...
...Capaz de disparar 700 tiros por minuto, ele está desbancando o antes predileto AR-15 - um fuzil automático derivado do M-16, usado pelas forças armadas dos EUA desde a Guerra do Vietnã.
... Também tem espaço a pistola Desert Eagle israelense e as fabricadas pela Magnum, sobretudo a calibre 357.
...

Justificativa:

A reportagem, que também mereceu enorme foto na primeira página, segue a linha editorial do jornal que apresenta as armas (e não os criminosos) como a causa maior da criminalidade no Rio de Janeiro. O objetivo dessa linha editorial é preparar o terreno para o confisco das armas permitidas, aproveitando-se da ignorância do povo sobre o assunto. Esta estratégia é conhecida e já foi aplicada em outros países.
Em sua ânsia por sensacionalismo o jornalista escreveu uma porção de bobagens, como podemos ver. - Para começar, será que essas armas estão mesmo causando preocupação às autoridades? Quantos fuzis SIG já apareceram por aqui? Será um número significativo? As fotos que aparecem nos jornais parecem ser sempre da mesma arma (uma que teve a coronha removida).
O jornal afirma que a arma é "de assalto". Vemos que a propaganda nazista de 1944, que batizou a carabina automática MP-43 de Sturmgehwer, até hoje faz sucesso. Na realidade o uso dessa palavra, que não está inserida no termo técnico "fuzil de assalto", visa sugerir aos leigos que a arma é adequada para a realização de assaltos, o que não é verdade. O jornal afirma, também, que a arma é mais poderosa que as usadas pela polícia do Rio. Não explicou como é possível duas ou mais armas que disparam a mesma munição apresentarem potências diferentes. Será que o projétil sabe de que arma foi disparado?
O jornal diz que a característica da arma é a precisão. Entretanto, os bandidos quase sempre removem a coronha dos fuzis que chegam às suas mãos. Fazem isso porque o que eles querem é submetralhadoras e como não as conseguem, transformam fuzis semi-automáticos em algo similar. Nessa função tática a precisão é irrelevante.
O JB diz que as balas tomam a posição vertical ao penetrarem no corpo humano causando enorme estrago. Neste caso, o jornalista ouviu o galo cantar mas não sabe onde. De fato, nos primeiros fuzis M-16, os projéteis eram sub-estabilizados e "cambalhotavam" ao penetrar tecido humano. Este fenômeno, entretanto, prejudicava a penetração em corpos rígidos e a precisão a longa distância. Após a Guerra do Vietnã os canos passaram a ser produzidos com um passo mais apertado e, nos fuzis mais recentes, os projéteis não cambalhotam mais. O fenômeno, entretanto, ocorre com a munição de uso permitido .22LR, sendo esse um dos motivos desse calibre ser o preferido por assassinos profissionais e espiões.
O jornal afirma que o AR-15 é um fuzil automático derivado do M-16. Nesse caso não sabemos se essa afirmativa deve-se à ignorância ou a intenção maquiavélica de confundir o público leigo quanto ao que seja automático e semi-automático. A segunda hipótese é mais provável. Afinal, já vimos o Superintendente da Polícia Federal no Rio, declarar que "automático e semi-automático é uma mera questão de semântica."
E, finalizando com chave de ouro o festival de sandices, o jornal cita como arma usada pelo banditismo as pistolas fabricadas pela Magnum. Será que ele se refere a Revista Magnum? Ganhará uma assinatura grátis do ARMARIA o primeiro que nos enviar uma foto dessa pistola.
A propósito, o fuzil chama-se SIG e não SIG-SAUER. As pistolas projetadas pela SIG são fabricadas pela SAUER na Alemanha, daí receberem a designação SIG-SAUER. Já os fuzis são todos fabricados na Suíça e recebem apenas a marca SIG.


Retornar ao ARMARIA ON LINE.